BLOG DO IFT

O novo fator h do SPIRES

Quem usa o SPIRES para procurar artigos de Física Teórica deve ter notado o aparecimento de uma nova forma de avaliação da importância de um cientista: o fator h. Entre na página, procure por artigos do Steven Weinberg ("find a weinberg, s") e depois clique em "Citesummary" para obter um resumo de suas citações. De uns tempos para cá tem aparecido a informação desse novo fator, que no caso do Weinberg é 80. Outros h's de teóricos famosos são: Edward Witten (110), Paul Anderson (h = 91), Frank Wilczek (68), Stephen Hawking (62). Escolha seu físico favorito e procure o h. Mas de onde saiu esse fator?
Da proposta de Jorge Hirsch, da Universidade da Califórnia em San Diego, apresentada no pré-print physics/0508025. Por definição, um cientista tem fator h se um número h de seus artigos tiver pelo menos h citações cada. Weinberg, por exemplo, teria 80 artigos com pelo menos 80 citações. Segundo o autor, isso é muito melhor que os tradicionais fatores como número de artigos, de citações e de citações por artigo. Faz comparações entre os h's de prêmios Nobel e até sugere que este fator deveria ser estendido para outras áreas do conhecimento.
Eu não acho. Até onde vi, esse fator h tem pelo menos duas falhas: para físicos em começo de carreira e para físicos experimentais.
No primeiro caso, um físico recém-doutor que tenha 3 papers com 50 citações cada (uma média excelente) terá h igual a apenas 3. Fatores h's altos exigem um tempo de vida profissional também grande. Porém, é preciso admitir que para a população de físicos teóricos sêniores ele tem sua utilidade.
No caso dos físicos experimentais a coisa não funciona justamente porque o fator foi construído para desconsiderar aqueles físicos que tem apenas alguns artigos famosos. Quem tem 5000 citações em um artigo e 2 em cada um de seus outros nove trabalhos terá h=2 (sendo que o número de citações por artigo é 500!). Imagino que o autor quis baixar a avaliação dos teóricos que vivem de um-único-coelho-na-cartola. O problema é que artigos isolados com muitíssimas citações são bastante comuns em Física experimental, dada a sua natureza. Eu gostaria de saber o h do pessoal que descobriu a supercondutividade de alta temperatura. Não deve ser muito grande, mas eles ganharam o prêmio Nobel no ano seguinte à descoberta. Afinal, é um fenômeno natural novo: eles poderiam encerrar a carreira ali que já teriam entrado para a história.
Como adverte o SPIRES: quem quiser usar o h que assuma os riscos.

posted by Anônimo @ 17:35