17.5.06

Como a opção sexual se manifesta no cérebro?


Um estudo sueco traz novos elementos para alimentar a polêmica discussão sobre a base biológica da orientação sexual em humanos. A neurologista Ivanka Savic e colaboradores do Instituto Karolinska, em Estocolmo, observaram que, em resposta a um hormônio masculino, o cérebro de mulheres heterossexuais e de homens homossexuais responde de forma similar; da mesma forma, há semelhanças na ativação de regiões cerebrais de homens heterossexuais e mulheres homossexuais em resposta a um hormônio feminino.

Os hormônios usados nos estudos foram o EST (isolado da urina de mulheres grávidas) e o AND (presente no suor masculino), que alguns cientistas acreditam se tratar de feromônios – substâncias que provocam algum comportamento em outros indivíduos da mesma espécie. Os feromônios são conhecidos por governar a atividade sexual de várias espécies animais, mas sua existência em humanos ainda não está confirmada e é motivo de polêmica entre os cientistas.

Os voluntários que participaram do estudo inalaram os hormônios e outros cheiros comuns e foram submetidos a testes de tomografia de emissão de pósitrons, que permitem identificar a ativação de diferentes regiões do cérebro em resposta ao estímulo investigado.

Em trabalhos anteriores, o grupo de Savic havia observado que homens homossexuais e mulheres heterossexuais têm a mesma região cerebral ativada – o hipotálamo anterior – quando cheiram AND. A inalação do EST provoca, nesses dois grupos de indivíduos, a ativação de outras regiões cerebrais, responsáveis por processar os odores comuns. Já homens heterossexuais apresentam o padrão inverso de ativação cerebral.







O novo trabalho do grupo, publicado esta semana na revista norte-americana PNAS, mostra que as mulheres homossexuais diferem dos outros grupos de voluntários: nelas, as regiões cerebrais envolvidas no processamento de odores comuns são ativadas após a inalação de ambos os hormônios. O estudo mostra, porém, que a resposta dessas mulheres é mais parecida com a dos homens heterossexuais, nos quais o hipotálamo só é ativado após a inalação do hormônio feminino, ainda que de forma mais branda.


Os cientistas sugerem que essa ativação parcial pode ser um indício de que o hormônio feminino EST – que foi menos estudado em comparação com o masculino AND – é um estimulador sexual fraco. Outra hipótese do grupo para explicar o resultado postula que a homossexualidade feminina seria diferente da masculina – elas seriam mais “sexualmente flexíveis” do que eles. Mas a autora principal do estudo, em entrevista à CH On-line, deixa claro que essas são apenas suposições.

Os autores são cautelosos ao interpretar os resultados. “As respostas fisiológicas observadas sugerem que a região do hipotálamo anterior do cérebro pode estar envolvida nos processos associados com a orientação sexual humana”, afirma Savic. Mas os estudos não permitem concluir se as ativações do cérebro provocadas pelos hormônios seriam causa ou conseqüência dessa orientação.

Os resultados sustentam a existência de uma relação entre a biologia do cérebro e a opção sexual humana, mas ainda há muito a se descobrir até que se entenda a real natureza dessa relação. O grupo de Savic espera acrescentar novas peças a esse quebra-cabeça – a sueca afirma que sua equipe pretende aprofundar os estudos sobre as mulheres homossexuais.

Fonte: Ciência Hoje