19.10.05

Congressinho: primeiro dia

Já que está acontecendo um congresso muito interessante aqui mesmo no IFT, tentarei fazer um live blog do evento. Como sempre se diz nos relatos de conferência, e nunca é demais repetir, estou limitado pelas palestras que vi e pela minha própria competência científica.

As palestras de hoje foram bastante diferentes das tradicionais linhas de pesquisa do instituto (essa é parte da idéia do congresso, claro):

1 - João Arana Varela, professor do Instituto de Química de Araraquara, apresentou suas pesquisas sobre propriedades de filmes ferroelétricos, materiais estes que mantém uma polarização mesmo quando o campo elétrico é removido; apresentam curva de histerese semelhante àquela mais conhecida dos ferromagnetos. Estes filmes serão (ou já são?) usados na produção de um novo tipo de memória de computadores, as FRAM. São memórias não-voláteis, ou seja, não perdem sua informação quando a fonte de energia é suspensa (como ocorre com a DRAM, por exemplo). O acesso delas é mais rápido que as memórias tradicionais e a densidade de informações também é superior. Uma promessa. Muito bom saber que o Brasil está acompanhando esta tecnologia. Achei que o palestrante poderia ter gasto mais tempo introduzindo o tema.

2 - Um assunto mais próximo do dia-a-dia do IFT foi discutido pelo professor Jose Eduardo Martinho Hornos, da USP de São Carlos. Utilizando-se dos métodos matemáticos típicos da análise de teorias de calibre (grupos e álgebras de Lie mais especificamente) Hornos abordou o problema das simetrias escondidas no código genético. As quebras espontâneas destas simetrias poderiam explicar o limitado número de aminoácidos presentes no DNA. Veja importante artigo dele sobre o tema aqui. Um palestrante muito carismático, até chamou nosso instituto de Templo da Teoria. E mencionou a praticidade dos médicos, com quem agora tem que trabalhar devido a sua área multidisciplinar: "eles são muitos mais práticos do que todas nossas esposas juntas, querem saber de resultados!".

3 - O professor Osvaldo Frota Pessoa Junior, do departamento de filosofia da USP, apresentou suas explorações iniciais num terreno tão polêmico quanto interessante: histórias alternativas da ciência. Parte-se de uma pergunta que muitos já se fizeram: e "se Einstein tivesse se tornado violinista profissional?", como seria a Física hoje? Quem teria descoberto o que ele descobriu? Depois de quanto tempo?
(No caso específico de Einstein o palestrante, como é opinião comum entre os físicos, acredita que apenas a Relatividade Geral levaria muito mais tempo para ser encontrada (uns 50, 60 anos segundo ele).)
Discutindo vários casos de descobertas da Física e como elas podem se interligar conceitualmente através de relações de causa-efeito, Pessoa Jr apresentou uma tentativa de descrição quantitativa da probabilidade de uma determinada história da ciência existir. Ou seja, a chance de que o desenvolvimento da ciência seguisse uma outra sequência de eventos que não aquela observada por nós. É claro que atualmente o estudo está altamente subjetivo, com hipóteses para a distribuição de probabilidade não muito razoáveis; pode se perguntar mesmo se faz sentido este tipo de investigação. Bom, é pesquisa e pode sair algum resultado interessante daí. Acho também muito louvável que um filósofo, como o Pessoa Jr (que, aliás, tem formação de físico), tente introduzir algum tipo de quantificação nos conceitos da filosofia da ciência.

1 Comments:

At 19/10/05 23:16, Anonymous Anônimo said...

Isso aí, André, boa idéia essa do "live blogging".

Fui pesquisar no Google Schoolar sobre esse trabalho do Hornos. Fiz uma busca pelo título do paper que você indicou, que é:
"Algebraic model for the evolution of the genetic code"

O Grande Irmão (vulgo Google) achou, é claro. Foi o primeiro da lista. E qual foi o segundo?

"A supersymmetric model for the evolution of the genetic code"

Não, não é brincadeira. Pra quem não acreditar:
http://scholar.google.com/scholar?q=Algebraic+model+for+the+evolution+of+the+genetic+code&ie=UTF-8&oe=UTF-8&hl=en&btnG=Search
ou direto aqui (o PDF é aberto, pode ser baixado de qualquer lugar):
http://scholar.google.com/url?sa=U&q=http://www.pnas.org/cgi/reprint/95/3/987.pdf

Até no código genético dá pra colocar supersimetria! Tenho que colocar isso no meu pedido de renovação de bolsa!

 

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