Congressinho: último dia
Escrevo já no sábado, pois ontem à noite, depois do encerramento do Congressinho, houve um churrasco comemorativo. Realizado aqui mesmo no IFT. Uma oportunidade de confraternização que deveria aparecer mais vezes.Hoje termino esta experiência de fazer o live blog de uma conferência. A dificuldade maior é ter ânimo no final de um dia inteiro de seminários para ainda escrever algo.
Bom, vamos às duas palestras do dia.
1 - Silvio Sorella, professor da UERJ, falou de aspectos não-perturbativos da Teoria de Yang-Mills, base do Modelo Padrão. Primeiramente situou os ouvintes apresentando um panorama histórico da teoria: sua formulação em 1954 por Chen-Ning Yang e Robert Mills (1954), a quantização por Faddeev e Popov (1967), a renormalização por 't Hooft e Veltman (1971-2), a descoberta da propriedade da liberdade assintótica por Politzer-Gross-Wilczek (1973), a simetria Becchi-Rouet-Stora-Tyutin (1974), até chegar nas cópias de Gribov (1978).
Então apresentou brevemente os principais resultados obtidos via equações de Schwinger-Dyson para o regime não-perturbativo, incluindo o comportamento da constante de acomplamento para baixas energias. A tendência é achar que a constante congela ao redor de 3 para momentum nulo. Foi uma palestra muito elogiada, apesar da complexidade do tema e da ausência total de qualquer diagrama ou figura. Um palestrante muito claro.
Sempre me perguntei o que teria acontecido com o Mills da dupla Yang-Mills. C. N. Yang continuou sua carreira produtivíssima, mas do outro não soube mais. Inclusive me disseram que ele havia morrido muito cedo, não muito depois da formulação da teoria. Procurando na internet encontrei este artigo da Wikipedia onde surpreendentemente descubro que Robert Mills (foto) faleceu apenas em 1999, e foi professor na Ohio University de 1956 a 1995, quando se aposentou (informações checadas). Pelo jeito foi "mágico de um coelho só": olhando suas publicações posteriores nem de longe produziu algo de tanto impacto como sua teoria de invariância não-abeliana, um dos sete desafios matemáticos do milênio.
Depois deste interlúdio histórico, vamos à próxima palestra.
2 - Professor do departamento de radiologia da faculdade de medicina da USP, com formação de engenheiro, Koichi Sameshima falou, sem entrar em maiores detalhes, sobre recentes pesquisas das neurociências nas quais os físicos poderiam fazer alguma contribuição. Ele participa do esforço brasileiro para construir um centro internacional de neurociências em Natal.
O ponto de sua palestra é que a capacidade matemática e de modelagem de sistemas complexos que um físico possui está fazendo falta nas pesquisas em neurociências. E foi corajoso ao dizer que é muito mais fácil um físico aprender biologia que o contrário. Eu também acho isso. Mas eu sou físico.
Recomendou-nos o livro Sync: The Emerging Science of Spontaneous Order, escrito pelo matemático Steven Strogatz.
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