30.11.05

Lattice day


Mais um pouco do meu peixe. Via Interactions.org fico sabendo que estão comemorando hoje as bodas de prata do artigo que inaugurou a abordagem numérica da QCD na rede (Lattice QCD). A discretização do espaço-tempo (rede euclidiana) aplicada à QCD já havia sido inventada bem antes, em 1974, pelo Prêmio Nobel Kenneth Wilson, mas enquanto técnica apenas analítica sua aplicação era de alcance limitado.
Monte Carlo study of quantized SU(2) gauge theory (PRD 21, 2308, 1980), de Michael Creutz (a figuraça aí do lado), foi publicado em 1980, sendo o paper mais citado daquele ano. Introduziu uma série de algoritmos que permitiam a simulação em computadores de teorias de calibres não-abelianas, base do Modelo Padrão das partículas. Foi um arrasa-quarteirão, pois, como se sabe, essas teorias são extremamente avessas a tratamentos analíticos num determinado regime de energia e a obtenção de predições confiáveis estava muito difícil. E, óbvio, era a região onde os fenômenos eram mais interessantes :)

O aparecimento de uma técnica que resolvia numericamente o problema injetou ânimo nos pesquisadores e esclareceu o que realmente essas teorias (em especial a QCD) prediziam, avalizando-as como boas descrições da natureza. Entre suas maiores conquistas estão uma demonstração bastante convincente do confinamento de quarks, estudo deste desconfinamento, coincidência da restauração da simetria quiral e desconfinamento, espectro de hádrons (uma das maiores conquistas da ciência segundo o Prêmio Nobel de 2004, Frank Wilczek), e muitas outras. Mesmo sem mencionar simulações, a discretização do espaço-tempo constitui um arcabouço teórico bastante poderoso.


Em homenagem à data, foi inaugurado em Brookhaven mais um supercomputador dedicado à QCD na rede, desta vez com capacidade de 10 Teraflops de processamento. Conhecido como US QCDOC (Quantum ChromoDynamics On a Chip), já é o terceiro filho de uma parceria entre a comunidade de QCD na rede americana e britânica e a IBM (BlueGene é spin-off disso). É engraçado comparar essas supermáquinas com a calculadora HP com a qual Creutz fez suas primeiras simulações (figura ao lado, grupo de calibre Z(2); note o papel quadriculado e os borrões de caneta. Depois reclamamos do gnuplot :)) ).

Esta pesada exigência computacional da QCD na rede manteve muitos países afastados desse tipo de técnica, incluindo aí o Brasil. Com o aparecimento dos clusters de PC's, na década de 90, esta situação começou a mudar, pois não era mais necessário comprar os caríssimos supercomputadores para fazer essas simulações. Grupos começaram a pipocar pelo planeta, inclusive por aqui [adic. 02.12.05: 1,2,3].

Minha modéstia me impede de destacar os benefícios de uma formação em QCD na rede, mas vocês devem imaginar que saber mexer com computadores não é uma habilidade desprezível fora do mundo acadêmico ;-)

Quem tiver interesse pode dar seus primeiros passos com o Lattice QCD for Novices, do professor Peter Lepage, ou então pode fuçar na página do professor Creutz (recomendo os Xtoys, muito divertidos).


Adicionado em 02.1205: O Daniel Ferrante me lembrou que a primeira iniciativa brasileira de fazer simulações de campos quânticos surgiu com o professor de Lyra da USP, acho que por 99-00. Lembro que ele mantinha um manual sobre o primeiro cluster que construiu pra isso, não sei se ainda está online. Chamava-o de SACI, em comparação com o nórdico BEOWULF :) Tenho certeza que este manual foi muito útil para os que queriam dar os primeiros passos na construção de um cluster, pois não havia tanta documentação como há hoje. O Daniel ainda manda o link de um texto sobre campos quânticos na rede (phi^4) produzido pelo professor de Lyra. Muito interessante, bastante voltado para a formulação rigorosa do problema de phi^4 na rede.

Beyond Einstein no IFT

A professora Maria Cristina Batoni Abdalla está coordenando a retransmissão do webevento Beyond Einstein aqui no IFT. Veja post anterior sobre o evento e alguns destaques da programação (estou ansioso pra ver The Late Show with Leon Lederman :)). Começa amanhã, 1 de dezembro, às 9 horas no auditório maior e está aberta à comunidade em geral. Serão doze horas de transmissão. Alguns professores do IFT/Unesp estarão de plantão para esclarecer as dúvidas do público presente.

Iniciativa excelente!

29.11.05

Aprendendo com os mestres

Em post anterior eu já havia deixado escapar meu deslumbramento com os incríveis benefícios que a internet trouxe ao permitir fácil acesso a vídeos de aulas e seminários de físicos conhecidos. Já há bastante tempo conhecia o MIT OpenCourseWare, particularmente os vídeos das aulas de Física Básica do professor Walter Lewin, considerado o melhor lecturer do MIT, comparado muitas vezes a Feynman. (Preciso dizer que, enquanto Feynman "ensinava para professores" (assim como Borges "escrevia para escritores"), Lewin realmente ensina para estudantes, mantendo o assunto no nível adequado a primeiro/segundo anistas, com um monte de demonstrações experimentais.) Sugiro fortemente essas aulas do professor Lewin: como aluno você aprenderá muito, e como professor testemunhará um exemplo de como tornar uma aula de Física universitária divertidíssima.

Mas zanzando por aí na net, partindo da página de vídeos do Serkan Cabi que um amigo (Alysson) me passou, encontrei muitas outras preciosidades. Exemplos:

- Feynman. Você já deve ter ouvido falar das aulas sobre QED que Feynman deu na Nova Zelândia, que serviram de base para o clássico QED - The Strange Theory of Light and Matter . Pois é, elas estão on line. Veja o mestre atuando assistindo estes vídeos disponíveis aqui. Lá é possível ver todas aquelas características que tornaram Feynman um professor legendário.

- Bethe. Não assisti, mas tratam-se de três aulas que Hans Bethe, morto este ano, deu para seus vizinhos leigos que estavam interessados em saber o que era afinal mecânica quântica.

- Caltech disponibiliza muitos seminários locais em sua página. Foi o melhor formato que encontrei até agora para digitalizar uma palestra, utiliza uma linguagem tipo html chamada SMIL. Acima você pode ver, por exemplo, como é assistir no seu computador uma aula do professor Saul Teukolsky: no lado esquerdo o vídeo da aula, no direito as transparências sincronizadas.

- Perimeter Institute Este jovem instituto canadense disponibiliza praticamente todas as aulas e seminários dadas por lá. Penrose, Hartle, Leggett, Weinberg, Maldacena e outros figurões tem suas palavras gravadas. Em particular, achei interessante um conjunto de 25 seminários sobre diferentes interpretações da mecânica quântica defendidas por destacados físicos da área.

- C++ para físicos, 24 aulas por Paul Kunz, do Cern, que ministra esta cadeira há treze anos.

Muita gente pode se ressentir ao se dar conta de que todos estes vídeo estão em inglês. Em todo caso, é uma boa oportunidade para treinar o ouvido, já que quem se interessa por este tipo de aula certamente terá que desenvolver suas habilidades nesse idioma.

No Brasil vêm aparecendo iniciativas neste sentido também, e me vem à mente o exemplo da série Convite à Física, produzida pela USP. Infelizmente, os vídeos são enormes, dificultando muito seu acesso (minha sugestão é que baixem a resolução dos arquivos quando disponibilizados on line.). Mas já é um bom começo.

Outra sugestão: na linha das aulas gravadas do professor Lewin do MIT, poderiam ser feitos vídeos aqui no Brasil com professores de didática destacada. Imagine se estivessem disponíveis os vídeos das aulas de Mecânica Estatística do professor Silvio Salinas, ou então de Teoria Quântica de Campos do professor Marcelo Gomes, apenas para ficar em dois nomes conhecidos nacionalmente pela clareza da exposição, a tal ponto de terem seus cursos publicados. Seria um excelente complemento para estas cadeiras ministradas em vários institutos do país.

Adicionado em 30.11.05: Tenho a impressão que esta onda de colocar seminários on line pode melhorar bastante a qualidade das apresentações em congressos. Imagine que você saiba que sua palestra será gravada e disponibilizada na rede: você não capricharia ainda mais?

Mas é tudo meio Big Brother, não? :-)

28.11.05

Manifesto de um cidadão


Adicionado pelo Administrador em 30.11.05:
• Post retirado pelo próprio autor em 30.11.05;
• Quem estiver interessado no texto que estava transcrito aqui, de autoria de Helena Sthephanowitz (autoria não confirmada), pode encontrá-lo nesta página.

25.11.05

Bolsista à beira de um ataque de nervos

Você quer ver um bolsista perturbado? Então atrase a resposta sobre a concessão/renovação de sua bolsa ou projeto. Ele ficará doidinho, desorientado, querendo saber de tudo e de todos se alguém tem alguma informação quente sobre a decisão. As pessoas chegam a evitá-lo, pois sabem que ele só falará disso. Um chato.

E em tempos de internet ele pode dar vazão às suas preocupações. É um período de neurose extrema, quando ele acessa 8 vezes por dia a página da agência (CNPq, Capes, Fapesp) tentando saber se a coisa saiu ou não. Chega ao ponto de desconfiar que o navegador está usando página antiga que está na memória, e acessa novamente de outros computadores para ter certeza de que o status do pedido de fato não mudou. Pensa até mesmo em montar um programa Python para se logar automaticamente na página e monitorar eventuais mudanças.
A checagem de mails também vira mania, e seu maior pesadelo é quando o servidor de mail local cai: "e se exatamente neste momento a agência tiver mandado a resposta para meu pedido?!?! o mail voltará sem eu saber e eles acharão que não estou interessado!!!" Uma obsessão só. O último estágio é quando ele, mesmo ateu, coloca uma imagem de Santo Expedito ao lado do monitor, "apenas pra garantir".

Sugiro que nos institutos maiores sejam criados grupos de ajuda mútua chamados BPA (bolsistas pedintes anônimos); lema "eu não checarei a página da agência hoje, pelo menos por hoje". E assim ele resistiria, dia após dia, com o apoio de seus infelizes semelhantes, ao seu consumidor desejo de saber novidades da bolsa. Pelo menos até a resposta definitiva sair.

Não sei por que estou escrevendo isso... eu deveria estar acessando a página do CNPq ;-)

23.11.05

Einstein x Newton

Esta é fresquinha, o resultado saiu agora há pouco: Newton venceu Einstein numa pesquisa realizada entre cientistas e leigos a respeito de quem teria sido o maior cientista de todos os tempos.

Na enquete foram feitas duas perguntas:

1) Quem realizou a maior contribuição para a ciência, levando em conta o estágio do conhecimento em sua época?

2) Quem contribuiu mais positivamente para a humanidade?

Entre os cientistas, 86,2% votaram em Newton no primeiro item e 60,9% no segundo. Entre leigos, a vitória de Newton teve uma vantagem menor, 61,8% e 50,1% nos itens 1 e 2, respectivamente.

No entanto, a imparcialidade não foi o forte da pesquisa: a promotora do evento foi nada mais nada menos que a Royal Society (RS), a academia de ciências do Reino Unido. É bom lembrar que Newton, inglês de Woolsthorpe, foi presidente desta sociedade por vinte e quatro anos, de 1703 a 1727. Além disso, os cientistas que fizeram parte da pesquisa são todos membros da RS. Não estou, nem de longe, duvidando da seriedade da RS, mas fica aquela sensação de que pode ter havido bairrismo aí :) Sem entrar no mérito da questão levantada pela pesquisa, acho que a academia de ciências alemã deveria promover um concurso semelhante, em desagravo. Afinal estamos nos 100 anos do Annus Mirabilis de Einstein.

Uma curiosidade. Na página que promoveu o evento podem ser encontrados argumentos tanto a favor de Newton (defensor: Sir John Enderby) quanto de Einstein (defensor: prof. Jim Al-Khalili). Entre os pontos pró-Einstein estaria o fato de que ele teria explicado por que o céu é azul. Para mim isto foi uma surpresa, até onde sabia isso era obra de Lord Rayleigh que foi quem deduziu a relação entre espalhamento e frequência da onda incidente (comprimentos de onda menores espalham mais e por isso vemos o céu azul). Provavelmente Einstein foi o primeiro a dar um tratamento quântico-estatístico, abordando o problema em termos de átomos e moléculas. Pelo que andei pesquisando, o artigo em que faz isso é o Theorie der Opaleszenz von homogenen Flüssigkeiten und Flüssigkeitsgemischen in der Nähe des kritischen Zustandes (Annalen der Physik, 33, 1910, pp. 1275-1298, aqui você pode acessar o artigo em formato pdf). Claro, está em alemão e portanto não entendi quase nada, mas procurando se acha as fórmulas onde aparece a quarta potência da frequência (a matemática é universal :D). Quem souber de uma tradução deste artigo ou tiver uma referência na qual este cálculo é feito, por favor, mail me.

Bem, se alguém estiver interessado na minha opinião sobre a pesquisa: Einstein e Newton estão empatados como físicos, mas Newton inventou o cálculo. É como se Einstein tivesse bolado a geometria não-euclidiana para desenvolver sua teoria da relatividade geral. So, you guess my vote.

22.11.05

Empresas privadas querem baixar custo da volta à Lua em mais de dez vezes usando uma Cadeira-Foguete!!


Um estudo capitaneado por um grupo de empresas americanas diz poder baixar o custo do retorno do Homem à Lua dos US$104 bilhões de dólares propostos pela Nasa, para US$10 bilhões, uma verdadeira barganha espacial!
A idéia é utilizar tecnologias novas alternativas, e um novo design de exploração, baseado em módulos de habitação prontos que seriam deixados na superfície por cada uma das missões e depois acoplados uns nos outros para formar uma espécie de base lunar.
Outra proposta "econômica" é o uso de um "foguete-cadeira" para trânsito entre a superfície e o módulo orbital.
Mais alguém aí lembrou de "Cowboys do Espaço"?! ;oD

19.11.05

Einstein in concert


Um megaevento promovido pelo CERN como parte das comemorações do Ano Mundial da Física acontecerá no dia primeiro de dezembro (news via Interactions.org). Sete instituições em todo mundo (Fermilab, Imperial College, Exploratorium, etc) serão mantidas em vídeoconferência por doze horas seguidas, com sinal retransmitido via web pelo CERN Globe of Science and Innovation. A programação está muito interessante e pode ser vista aqui (considerando o fuso horário, em São Paulo o evento começará às 9:00hs da manhã). Alguns destaques:

- 10:30, Following the path of Einstein's life through Bern, Pavia, Milan and Berlin

- 12:30, Pirelli Relativity Challenge Awards. A Pirelli está patrocinando um concurso que premiará com 25.000 euros "o melhor trabalho multimídia que explique a teoria da relatividade especial para o leigo". No site encontrei a seguinte preciosidade: "A filosofia do prêmio é que uma comunicação eficiente da ciência é tão importante quanto a própria descoberta. Este desafio procura promover esta filosofia pela simplificação e desmistificação de uma das mais complexas teorias da ciência." Que iniciativa maravilhosa!

- 14:10, SOLVAY Conference 2005 (Bruxelas). Presença dos Prêmios Nobel Murray Gell-Mann, David Gross e Gerard 't Hooft, além de Stephen Hawking. Ao vivo, com possibilidade de perguntas!

- 16:30, Musical Entertainment: GRID sonifications. Não sei bem o que é isso, mas parece legal.

- 18:00, The Late Show with Leon Lederman (interativo, com entrevistas com jovens físicos e demonstrações de Física).

- 19:30, Direto da Tasmânia, Paul Davies fala sobre Time Travel

(os horários se referem a São Paulo). Existem muitas outras atrações, peguei só algumas.

Para assistir no seu computador pessoal basta ter o Windows Media Player ou o RealPlayer. Talvez o IFT pudesse promover uma instância desse evento, disponibilizando o auditório maior para projeção das imagens. Até mesmo utilizar seu sistema de videoconferência para participar interativamente das discussões. Só não sei se nossa banda (2Mbps) aguentaria :-(

17.11.05

Turtles and blogs


Via blog do Peter Woit, fico sabendo que finalmente é possível ter acesso eletrônico às matérias da nova revista SEED, especializada em cultura e divulgação científica de alto nível (a foto ao lado está em reportagem sobre os 175 anos da tartaruga Harriet, que Charles Darwin teria levado para a Inglaterra após sua famosa estadia em Galápagos). Aparentemente já houve uma SEED, mas não deu certo; desta vez James Watson é conselheiro da versão reformulada, provavelmente para garantir uma boa polêmica em cada edição.

Num interessante golpe de marketing (no qual estou voluntariamente caindo :) ) a revista apostou na sua divulgação via blogs. Para tanto, em sua primeira edição apareceu uma reportagem sobre o impacto dos blogs de Física na comunidade científica. Evidentemente a maioria dos blogs de Física postou esta notícia. E junto acabou se informando o relançamento da SEED. Aliás, os blogs mais populares (Peter Woit, Cosmic Variance, Lubos Motl) tiveram seus nomes citados na matéria. Muito perspicaz. E válido, pois é realmente notícia quente.

A reportagem fala da importância desses blogs na rápida divulgação de idéias e novidades entre físicos. Claro, a coisa já está bem ligeira, por causa dos Arxiv's, mas ainda era necessário produzir um pré-print para compartilhar seus pontos de vista; agora só é preciso escrever um post ou um comentário :) Este novo mecanismo é interessante também por tornar mais transparente o modo como é realizada a pesquisa científica, com seus debates, erros, argumentos de autoridade, ironias, personalismo, reconsiderações, etc. Outro aspecto inovador é que qualquer um pode participar da discussão, desde leigos até cientistas profissionais; nos mais famosos blogs mesmo alguns prêmios Nobel dão o ar de sua graça. A relevância do fenômeno blog é reconhecida até mesmo pelo Arxiv's que agora instituiu links para posts que discutem o pré-print.

Existem outras matérias muito interessantes por lá. Por exemplo, sugiro o divertidíssimo Why we love Einstein.

16.11.05

65 Universidades particulares não cumprem a LDB

Fiquei sabendo, via Jornal da Ciência, que o Brasil tem atualmente 85 universidades particulares regularmente cadastradas no MEC, sendo que destas, 65 não cumprem os requisitos mínimos de titulação do seu corpo docente com dedicação integral, previstos pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB).
A reportagem é na verdade uma coletânea de artigos que saíram no Estado de S. Paulo e de notícia veiculada pela assessoria de comunicação do MEC, no entanto, não encontrei em parte alguma a lista dessas universidades mal qualificadas. Acho isso um desrespeito! Se o levantamento foi feito, foi para fiscalizar e informar aos cidadãos quais universidades cumprem, e quais não cumprem, os requisitos da lei. O cara que investe grana e esforço ao cursar uma universidade, tem o direito de saber se a universidade que ele está cursando é séria, ou se ele está sendo enganado! Por que o MEC e os jornais não divulgaram a lista?!

14.11.05

Cinco links

Wanderson Wanzeller (IFT) envia link informando sobre a aquisição de novo supercomputador pela USP. É uma máquina da Sun Microsystems que tem capacidade de 2,8 trilhões de operações por segundo (2,8 Teraflops), ficando na 301ª posição do Top500. O primeiro colocado da lista é o BlueGene/L, da IBM, que tem pico de 183,5 teraflops.

Alysson Ferrari (IFUSP) mandou esta notícia da Folha sobre o comércio de teses de doutorado e dissertações de mestrado.

Uma das soluções para o problema é uma maior rigidez dos departamentos na formação das bancas examinadoras, pois este tipo de abuso só acontece por uma eventual indiferença/desinteresse dos avaliadores.
Aliás, este episódio me lembrou o "Caso Bogdanov", onde duas teses de doutorado sem sentido, uma em matemática e outra em física teórica, foram aprovadas pela Université de Bourgogne (o incrível é que Roman Jackiw estava numa das bancas!). O resumo da ópera é que os autores dominavam apenas o jargão da área, mas sem qualquer entendimento do que se passava. Juntaram algumas frases típicas e montaram seus trabalhos. No fim, a complicação das teses e dos artigos era tanta, e isso agora é tão comum em algumas áreas da Física Teórica, que os avaliadores aprovaram-nos, mesmo sem entender nada. Foi um escândalo, mas no Brasil não houve muita repercussão.

♦ uma interessante página de notícias de Física (e afins) feita pelo professor Victor Rivelles (IFUSP) pode ser vista aqui;

♦ via blog do Daniel Ferrante, fico sabendo do lançamento da Revista Ciências Moleculares, organizada por alunos e ex-alunos do Curso de Ciências Moleculares, uma espécie de crème de la crème da graduação uspiana. É um curso interdisciplinar, com bastante liberdade acadêmica (sem currículos pré-estabelecidos), voltado para a formação científica de seus estudantes (40% terminam o doutorado), sendo bastante seletivo quanto ao ingresso de novos alunos. O primeiro número da revista traz, entre outras matérias, uma pequena ficção escrita pelo professor Fleming, e um artigo do Daniel Ferrante sobre C&T, no qual também discute um pouco o conceito de Open Science (esta expressão é meio redundante, não? :) ).


♦ puxando brasa para minha sardinha: via blog do Matthew Nobes, que não é atualizado tão frequentemente quanto eu gostaria, descubro que a matéria de capa da revista Symmetry deste mês (imagem ao lado) é sobre QCD na Rede (Lattice QCD), um método de cálculo de teorias quânticas de campo na qual o espaço-tempo é discretizado, colocando as equações numa forma adequada para sua solução numérica. A reportagem é bastante acessível e dá ênfase às pesadas exigências computacionais desta técnica. Por exemplo, informa o leitor que o poderoso BlueGene/L, mencionado acima, é filho do QCDOC, um chip desenvolvido especialmente para cálculos em QCD na Rede. Mais um spin-off para Física de Partículas :)

(Moderador: Andre)

11.11.05

Gell-Mann versus Feynman (e Susskind no meio)


Estive lendo a entrevista que Leonard Susskind (foto ao lado) concedeu ao site Edge em 2003, onde conta sobre sua participação no início da teoria de cordas. É cheia de episódios hilários e ilustrativos.

Por exemplo, ele descreve seu primeiro encontro com Murray Gell-Mann, quando tenta lhe falar sobre sua teoria de que os hádrons se comportavam como tiras elásticas (rubber bands, que depois viriam a ser chamadas de cordas). Gell-Mann, já famoso, havia dado uma palestra numa grande conferência em que Susskind também estava presente. De volta ao hotel eles pegaram o mesmo elevador, o qual sofreu uma pane e parou. Imagine você e um Prêmio Nobel trancados num elevador e ele te perguntando: "Em que você está trabalhando?". Que pressão! Susskind falou sobre sua teoria de tiras elásticas e Gell-Mann começou a rir descontroladamente. Nightmare scenario, não? :-) Para tentar deixar o clima menos tenso e, inadvertidamente, forçar alguma intimidade, Susskind pergunta: "E em que você está trabalhando, Murray?". A resposta: "Você não ouviu minha palestra?". Por sorte, o elevador começou a subir.

Alguns anos mais tarde eles se reencontram em outra conferência. Susskind, no meio de uma conversa animada com colegas, é interrompido bruscamente por Gell-Mann: "Eu queria me desculpar por ter rido de você aquele dia no elevador. O que você está fazendo é a grande coisa do momento. Na minha palestra vou falar apenas disso. Temos que sentar para você me explicar direitinho!". Disparou isso e foi embora. Susskind diz que ficou nas nuvens e passou os próximos dias atrás de Gell-Mann, perguntando se ele estava livre pra conversar. Em geral a resposta era: "Não, agora eu tenho que falar com alguém importante" :)) A fama de Gell-Mann não é à toa.

Os dois finalmente se sentaram e Gell-Mann pediu para Susskind explicar tudo em termos de teoria quântica de campos. Susskind, tão ingênuo, disse "ok, vou explicar em termos de pártons".

O problema é que este termo fora inventado pelo arqui-rival de Gell-Mann, Richard Feynman. Além disso, párton é um frankestein linguístico, meio latina, meio grega, um crime hediondo para um amante de idiomas como Gell-Mann. (A propósito, quem quiser saber como se pronuncia Zwiebach, o autor do impressionante A First Course in String Theory , é só assistir ao vídeo da palestra do Gell-Mann na SidneyFest. Adianto: é muito difícil.) Voltando aos pártons: Gell-Mann ficou fazendo perguntas sobre o que seria isso, quais suas propriedades, etc. Quando Susskind disse que eles eram descritos pelo grupo SU(3) Gell-Mann exclamou: "Ah, você quer dizer quarks!". Egos...

Depois dessa enrolação Susskind teve apenas 1 minuto para explicar suas tiras elásticas, mas foi o suficiente para Gell-Mann entender e citá-lo a todo momento em sua palestra. Ele colocou Susskind no mapa; do seu jeito arrogante, mas colocou.

Esta competição entre Gell-mann e Feynman, ambos trabalhando no Caltech, é legendária e pode-se ter uma boa idéia dela no livro "O Arco-íris de Feynman", de Leonard Mlodinow. As pessoas, inclusive futuros Prêmios Nobel, tinham medo de apresentar seminários no Caltech, pois os dois competiam para ver quem fazia a pergunta mais crucial. Penso que esta competição é em geral positiva: quando se tem alguém com quem concorrer as pessoas ficam estimuladas, trabalham mais. Dentro dos limites da ética e do respeito, é muito saudável. Mas existem os extremos, claro: alguns físicos adotam uma posição arrogante, para despertar antipatia em seus pares e com isso conseguir adversários que os estimulem com a concorrência. Aparentemente, eles criam um personagem que os ajuda a trabalhar mais. Como se a beleza da Física já não bastasse.

Mas cada um, cada um.

Physics parodies

Este é o site do físico Warren Siegel que por sinal é muito interessante. Além dos seus trabalhos sérios nas áreas de Campos, strings, supersimetria e gravitação quântica, o cara ainda arranja tempo pra escrever artigos que, à primeira vista, pareceriam normais ao olho de qualquer leitor, porém estes artigos são apenas paródias de teorias mirabolantes com pouco fundamento físico, mas com muita diversão. Aconselho a todos que queiram dar umas boas gargalhadas que acessem o site. Para isto basta clicar no título deste post.

Aluno acha manuscrito de Einstein em universidade

Essa pode ser um pouco antiga e alguns já devem ter lido, mas a notícia me chamou a atenção por dois motivos. Primeiro porque quando estive em Leiden no ano passado eu realmente tive essa sensação de fácil acesso, por parte de especialistas, a documentos e equipamentos históricos. A educação dos holandeses parece ser muito mais voltada para a difusão da cultura entre os seus jovens, e as pessoas crescem tendo fácil acesso a instrumentos científicos do passado, como telescópios, ou a objetos que marcam a história da sua sociedade. Por exemplo, a medalha nobel do Zeeman ficava ao alcance da mão, e os manuscritos dele sobre o efeito que lhe rendeu o prêmio estavam numa estante de vidro, mas podendo ser facilmente lidos. Acho que precisamos de um pouco mais disso aqui no Brasil (museus como a Estação Ciência são um bom começo).
O segundo motivo que me levou a escrever sobre a reportagem, foi porque ela me lembrou mais uma vez da "pressa" que move os meios jornalísticos de hoje. A reportagem conta razoavelmente a história do achado do manuscrito, tenta explicar (meio toscamente) a condensação de Bose-Einstein, mas termina com uma nota dizendo que ela foi atualizada em, pasmem, 21/08/06.
A notícia deveria citar também onde eles conseguiram a máquina do tempo! :o)

8.11.05

Rapidinha

Alysson (IFUSP) enviou link informando sobre a condenação do físico americano John Robert Schrieffer, 74, nesta segunda-feira na Califórnia. Em 2004, o físico se envolveu num acidente de carro que terminou na morte de uma pessoa e vários feridos. Foi acusado de negligência na direção e pegou dois anos de prisão.

Schrieffer é o S da teoria BCS da supercondutividade, tendo recebido o Prêmio Nobel de Física em 1972 por este trabalho.

Aparentemente, no momento da prisão, não houve resistência (ok, não pude evitar...)

3º. Torneio Brasileiro de Jovens Físicos

Trata-se de um torneio para estudantes da 8.º série do ensino fundamental. Mas este não é "mais um torneio de ciências". Os principais diferenciais desse torneio são o incentivo ao trabalho em equipe e os tipos de questões abordadas. Todas as questões envolvem fenômenos que ou fazem parte do dia-a-dia das pessoas ou podem ser realizadas por qualquer um sem grandes aparatos experimentais. Entretanto, a dificuldade de alguns problemas é tamanha, e o problema pode ser de tal forma aprofundado, que chego a imaginar que questões desse tipo também deveriam fazer parte dos currículos normais do bacharelado em Física!
Tomemos como exemplo a questão 9: Investigue a propagação do som em espumas. Um enunciado singelo, mas que esconde um problema incrivelmente atual e importante, especialmente quando pensamos em isolamento acústico e suas aplicações industriais. Existem até questões para os cervejeiros de plantão: O que provoca a diminuição da altura da espuma em um líquido? Sob quais condições a espuma permanece o máximo tempo possível?
Fora as questões, o site do torneio também é muito legal e bem feito, possuindo links para outros torneios e competições científicas, além de material de apoio para quem participar!

Hidrino

Claro, depois da fusão a frio está todo mundo desconfiado, mas não custa mencionar a mais recente esperança energética do momento. Randell Mills, médico por Harvard e engenheiro elétrico pelo MIT, e seus colaboradores têm obtido um estranho excesso de energia em suas experiências envolvendo um novo tipo de misturas de gases ionizados, chamadas por eles de plasmas de transferência ressonante. Conseguem 50% a mais na produção de calor que os métodos tradicionais. Segundo matéria no Guardian, um quilowatt hora gerado com esta técnica custaria 1.2 centavos de dólar, enquanto a mesma energia custa 5 e 6 centavos quando se utiliza carvão e energia nuclear, respectivamente. Trata-se de esperar para ver se outros grupos reproduzem os resultados do grupo de Mills.

Porém, o que tem causado mais polêmica entre os físicos é a teoria que Mills bolou para explicar o fenômeno, chamada Mecânica Quântica Clássica (CQM, da sigla em inglês). Como nas experiências é verificado um estranho alargamento das linhas espectrais do hidrogênio, Mills imaginou que o excesso de energia poderia advir de um estado mais estável do átomo de hidrogênio, batizando este pretenso novo estado de hidrino (hydrino). Assim, quando o hidrogênio em sua forma mais comum decaísse para o hidrino, energia seria liberada.

O probleminha aqui é que isso vai contra 80 anos de mecânica quântica, pois esta prediz claramente um estado fundamental do hidrogênio com energia de ligação igual a 13.8 eV, sendo impossível a existência de órbitas mais estáveis. Dois físicos teóricos já começaram a levar mais a sério esta história de hidrino e fizeram suas contas. Andreas Rathke, da Agência Espacial Européia, faz uma crítica bastante forte à CQM, afirmando que a teoria é inconsistente e, mais importante, nem prevê a existência do hidrino. Jan Naudts, da Universidade da Antuérpia, está tentando (physics/0507193) encontrar o hidrino num conjunto extra de soluções relativísticas da mecânica quântica (equação de Dirac), soluções estas até agora desprezadas por serem não-físicas (não eram quadraticamente integráveis).

É muito importante separar o trabalho experimental de Mills de sua nova teoria. Vários grupos estão tentando reproduzir seus resultados experimentais (publicados em jornais de muita reputação, como o Journal of Applied Physics), como sempre é feito quando um fenômeno novo é descoberto. Poderão ou não corroborar o trabalho de Mills.
No entanto, ele ter rapidamente lançado uma teoria tão ousada para explicar o suposto fenômeno foi extremamente precipitado. 99% dos físicos acharão que você é um picareta se afirma que a mecânica quântica está errada. E logo no átomo de hidrogênio, uma das primeiras arenas da quântica. Ele teria feito melhor guardando pra si suas idéias sobre CQM (que aliás aplica até em teorias de unificação..tsc,tsc,tsc what a crackpot!). Para ser justo, é preciso ainda dizer que ao menos a CQM é uma teoria científica, no sentido de que é falseável, como seu próprio crítico Rathke observou.

No estágio atual das pesquisas a coisa mais sensata a fazer é se certificar de que os procedimentos científicos, como falseabilidade, reprodutibilidade e avaliação por pares, estão sendo seguidos. Se estão, mais cedo ou mais tarde qualquer erro ou enganação fatalmente aparecerá.

4.11.05

Prêmio "Blog do IFT" de Criatividade


No espírito das comemorações do Ano Mundial da Física, o Blog do IFT está promovendo uma competição de criatividade entre seus leitores. Para participar, eles devem bolar uma frase criativa (engraçadinha) a ser inserida na clássica foto de Einstein que está acima. Para ver como fica sua idéia, basta entrar neste site . A imagem gerada deverá ser salva e disponibilizada nos comentários deste post, através de sites de upload como o ImagesHack (é só informar o link que eles fornecem). Se tiver dificuldade com esse procedimento, pode também mandar somente o texto da frase.

Cada concorrente pode inscrever quantas frases quiser. O limite é a criatividade (e, provavelmente, seu tempo de bolsa). A melhor imagem ganhará um Certificado de Ócio Criativo do Blog do IFT e uma caneca da SBF feita em homenagem ao Ano Mundial da Física (nunca usei mesmo).

3.11.05

Novos Campi = Mais Pesquisa ?

O geverno federal anunciou a crição mais dois novos campi da Unifesp, um em Diadema e outro em Guarulhos. O anúncio faz parte do projeto de expansão das federais iniciado pelo ministro anterior, e a Unifesp tem prioridade nessa expansão, pois foi criada a partir da Escola Paulista de Medicina e portanto concentra-se apenas na área biomédica, o que vai de encontro à definição que o MEC dá de uma Universidade.
Recentemente a Unifesp criou um campus em Santos com cursos sequênciais em engenharia, diversificando a sua atuação conforme as exigências do MEC.
Nessa nova onda de expansões, praticamente 100% dos cursos são cursos "inéditos" dentro do rol tradicional das universidades públicas, e também em praticamente 100% deles os professores são contratados exclusivamente para dar aulas, não sendo prevista nenhuma atividade de pesquisa. Tome-se como exemplo os recentes concursos na UFPR e na UFRRJ.
Na Unesp, estuda-se criar novos contratos pela CLT, o que obrigaria os professores apenas a darem aulas. Claro, como não há dedicação à pesquisa, os salários são menores que os de um professor doutor, ou adjunto.
Assim, a pesquisa parece estar sendo delegada, para a geração futura de novos professores, como um "hobby" que ele desenvolveria nas horas vagas e sem nenhum tipo de apoio institucional local. Isso me leva a pensar se a expansão do nosso querido instituto (com a criação de uma graduação) também seria feita nesses moldes?

Portal Unesp cria site para a divulgação da Física

A reitoria da Unesp lançou um novo portal para a divulgação da Física, e quem o coordena é o nosso velho amigo Igor Z.
Algum tempo atrás eu encontrei o Igor num almoço e ele tinha me dito que estava mesmo preparando um projeto desses, cujo resultado pode-se conferir aqui. Para entrar em contato com o Igor e pedir mais eslarecimentos sobre as notícias do site (que ele adora debater!) basta mandar uma mensagem para universofisico@reitoria.unesp.br
Só tenho a desejar sucesso a mais essa iniciativa de difundir o conhecimento! Parabéns ao Igor e a todo o pessoal de apoio. Quem quiser ler uma descrição mais detalhada do site, clique no título deste post.

IFT 2.0

Como alguns que passam por aqui já sabem, o IFT está em processo de "upgrade" para novas instalações. Existe uma proposta da Fundação IFT de mudar o instituto temporariamente para um novo prédio no centro velho de São Paulo até que a construção do novo campus da Unesp na Barra Funda esteja concluída.
A boa notícia é que finalmente o dinheiro para a construção do prédio na Barra Funda foi liberado pela câmara, leia aqui.
Como a previsão é de que o prédio da Barra Funda fique pronto até fim de 2007 (sendo a licitação aberta ainda este ano), pode ser que o projeto da Fundação de um IFT 1.5 no centro seja abandonado. Aguardem novas por aqui! :o)

2.11.05

Três físicos filosofando

Lendo os numerosos comentários ao polêmico post do blog do Peter Woit intitulado “Why is string theory science, but intelligent design isn’t?”, esbarrei no link para um recente pré-print chamado "On Math, Matter and Mind". Três físicos, Piet Hut (IAS Princeton), Mark Alford (Washington Univ.) e Max Tegmark (MIT Kavli Inst.), apresentam suas posições a respeito do triângulo de Penrose (ao lado). Este consiste num esquema de ligações que resume a visão bastante difundida de que a matemática é a linguagem através da qual se pode explicar a (dinâmica da) matéria (relação 1); esta dinâmica esclarece completamente os mecanismos de funcionamento da mente (relação 2); e esta, por sua vez, produz a matemática (relação 3). A motivação principal dos autores é esclarecer o público de que não existe consenso entre os físicos sobre a questão, como frequentemente é sugerido por ilustres divulgadores científicos.

Para mostrar isso eles apresentam suas próprias posições divergentes sobre o tema. Três físicos, três pontos de vista diferentes. Eles se auto-dividem em fundamentalista (Max Tegmark), secular (Mark Alford) e místico (Piet Hut).

O fundamentalista, também chamado de platonista radical, defende que o triângulo está correto a menos da relação 3, pois acredita que os objetos matemáticos possuem existência própria, independente da mente humana. Resume sua posição como: a matemática explica a matéria e a matéria explica a mente, fim da história.
O secular é o antípoda do fundamentalista: para ele apenas a relação 3 se salva no triângulo de Penrose. Sendo cético com respeito à independência da matemática em relação à mente humana (suscetível a contextos históricos), o secular não acredita necessariamente que a matéria poderá ser sempre expressa em termos matemáticos. Surpreendentmente ele também não aceita a relação 2 (matéria->mente), mas não explica muito bem sua posição.
O terceiro ponto de vista, de Piet Hut, é o mais vago de todos. Assim como o fundamentalista, tem uma forte crença no alcance da ciência em questões ontológicas. No entanto, apenas uma ainda-não-existente fonte única, transcendente, explicaria completamente (holisticamente? ;-) ) este triângulo.

Seguem-se as críticas de uns aos outros, com certeza a parte mais interessante do artigo. Em particular sugiro a seção VI, onde se debate o ponto de vista fundamentalista, muito comum entre praticantes de teorias unificadoras. O secular tenta abalar sua base, insistindo na idéia de que não se pode, por nenhum argumento sensato, afirmar que a física e a matemática atual tem um status privilegiado com relação ao passado. Ou seja: se em séculos anteriores elas mudaram tanto, não se pode garantir que não se alterarão completamente, até serem mal reconhecidas no futuro como tais. Se isto é verdade, fica difícil aceitar o ponto de vista fundamentalista de que estamos próximos à uma explicação final em termos de matemática.

Apesar de toda essa nomenclatura religiosa, em nenhum momento eles mencionaram a palavra Deus. Porém, o papel da matemática para o fundamentalista, e da fonte-desconhecida para o místico, se aproximam muito desse conceito.

Tentei resumir o paper, mas o problema é complexo demais para um post de blog. Recomendo fortemente sua completa leitura. Particularmente, simpatizo mais com o secular, o mais resignado de todos. Aliás, o fundamentalista ironiza esta posição chamando-a de "shut-up-and-calculate' (cale a boca e trabalhe). Apenas não concordo com suas restrições à relação matéria-mente. Em todo caso, pelas minhas contas existem 8 possíveis opiniões com relação ao triângulo. Escolha a sua! :-)

Achei muito interessante esta iniciativa. Tenho notícias de outros exemplos de gente se reunindo para discutir algum assunto polêmico (veja o exemplo do livro "Felicidade", do Eduardo Giannetti; apesar do nome, não é auto-ajuda). Marcam um dia para se reunir na casa de algum membro, definem alguém para coordenar a sessão, e combinam previamente determinados textos a serem discutidos. Tudo organizado, pois do contrário vira uma zona e não há progresso. E o álcool precisa ser proibido. Isso, precisa.

Ficção matemática